Eram sete da manhã quando meu sogro me acordou para ir à praia com a família. Na Kombi, que ele usa para entregar peixe e camarão, tinha de tudo: fita do Milionário e José Rico, churrasqueira, câmera de pneu de trator para fazer de bóia, prancha de isopor do jacarezinho, isopor para preservar o sanduíche de sardinha e a salada de fruta, barraca para 12 pessoas, galinha assada, rede, toca-fitas, farofa e um estoque inesgotável de cerveja e catuaba, além de dois fardos de papel higiênico.
O dia prometia, chamamos nossos parentes: tias, sobrinhos, netos, primos de 3º grau e o cachorro. Meu Tio Silvio, que é um bêbado rotineiro, decidiu nos acompanhar. E o desgraçado já estava curtido as sete da manha, O cheiro de catuaba velha exalava dele e impregnou a Kombi, e o infeliz ainda queria dirigir o veiculo.
No caminho, vi o inferno em minha frente. Minha sogra fez um sorteio para ver quem cuidaria das 16 crianças que nos acompanhavam, e quem foi a sortuda que estaria encarregada do trabalho? Minha esposa. Já vi tudo, meu final de semana iria ser um belo lixo. Meu anjinho, Gwennypher, havia comprado um biquininho extra PP, branco, sem forro e de cordinha. Estava louco para vê-la sair do mar com ele. Mas já imaginei, ela tendo que brincar com os pirralhos e me deixando literalmente não mão. E eu que achava que iríamos fazer um Cicarelli no mar.
Saímos de casa as 8:15 da manha. Para ajeitar todos na condução, fizemos a seguinte divisão: Meu sogro dirigia com o cachorro no colo, e cada adulto carregava uma a duas crianças. Tive sorte ou azar, não sei, faltou criança e eu levei minha mulher na garupa. Meu ombro ficou todo assado e ainda tinha que segurar o isopor para não cair no buraco que tinha no fundo da Kombi, uma estratégia do velho para esconder, em caso de Blitz, o botijão de 13 kilos de gás de cozinha que na ocasião era o combustível da mesma.
No meio do caminho, de tanto servir da garrafa térmica, que meu sogro usa para levar cerveja ao jogo de futebol, ki-suco de acerola com melancia, a molecada precisou parar para urinar. Paramos numa casa de pamonha e caldo de cana, que tinha um único banheiro. Unissex. Foi aquela gurizada fazendo fila e meu tio bêbado saiu correndo da Kombi com a mão na bunda e outra pra frente, berrando: Sai da frente que eu to “se cagando”. Foi aquela farra. A molecada teve que sair para mijar no terreno baldio do lado, pois meu tio deixou o banheiro inutilizável. Nem o cheiro de borracha queimada, do pneu que ele ateou fogo perto da privada, resolveu o negócio.
Voltamos pra Kombi para prosseguir viagem. A gurizada gritava e se esperneava, dizendo que estavam com a bunda doendo. Apenas o Jorginho, filho do concunhado de minha esposa, que estava sentado no colo do meu tio bêbado, ficava quieto com os olhos arregalados olhando pra frente. Estranho isso.
Depois de 4 horas de viagem, chegamos à praia do Urubu Falecido e montamos nosso acampamento. Deixei a churrasqueira aprumada e fui tirar o isopor da “van”, quando me deparei com uma cena hedionda, Minha sogra, aquela joinha que pesa apenas 122 kilos, tentando provar o biquíni do meu docinho de coco. Voltei para areia com o olho arregalado sem piscar. Tremendo ainda, abri uma cerveja, me sentei na areia e fiquei quieto e assustado.
Meu tio voltou todo feliz, dizendo que havia comprando de um vendedor de rede, uma garrafa de velho barreiro pela metade. Dizia ele: “foi uma pechincha, é hoje que eu me encharco”. Isso que já tinha cerveja aos montes, catuaba e uma garrafa de Bitter, que meu sogro tirou de dentro da capanga que nunca saia de perto dele, que o danado também era chegado.
Resolvi levar a nega velha para tomar um banho de mar e tentar praticar um Esporte que a Cicarelli adora. Triste ilusão. Assim que entramos na água, a infeliz menstruou. Agora mesmo é que acabou meu dia. Ela saiu correndo em direção a Kombi e lá se trancou. Fiquei deveras macambúzio com aquilo. Estava totalmente sorumbático, pois na questão, o substituto para cuidar dos capetinhas, logicamente, era eu. Que desgraça.
Chutei o pau da barraca, Resolvi fazer o que meu tio bêbado adorava fazer, encher o rabo de cana. Meu tio, a essa altura da garrafa de velho barreiro e catuaba, já estava caído e roncando na esteira, torrando no sol com a mão no peito. O Wuóshito e o Klaibson, dois sobrinhos de minha esposa, que são muito arteiros, resolveram enterrar o velho, Deixaram só a cabeça e a mão com a garrafa de bitter pra fora.
Sentei na cadeira, meio bêbado já, e fiquei pensando na morte da bezerra. Quando avisto ao horizonte o Warisney Júnior se afogando e a gurizada toda observando semi-preocupada. Me virei em pernas e me taquei na água com uma barrigada, emendei meu internacionalmente conhecido nado cachorrinho e fui atrás do pimpolho. O filho da mãe, quando o alcancei, me encheu de bolachas se debatendo, voltou até a areia dando tapa na minha pança. Cheguei à praia e a minha sogra veio correndo segurando a saia, se estatelando num castelinho de areia que estava no caminho, para fazer respiração boca-a-boca, gritando: “Chupa no narijo, Chupa no narijo”.
Aquilo foi uma festa, todos caíram na gargalhada, inclusive o afogado, que na ocasião já tinha se levantado e ido jogar bola com o resto da gurizada.
Voltei pra minha cadeira, tentando me embriagar novamente, pois com o banho de mar e as porradas do moleque já estava bom de novo. Teria que começar do zero. Que desgraça. Depois de eu beber duas caixas de cerveja resolvemos ir embora. Começou aquela via-sacra toda de novo para por a cacalhada toda na Kombi. Era o tio bêbado, que não queria acordar; a gurizada toda suja de areia, que queria continuar jogando bola; a velha, que queria ficar pra terminar a broa de milho que tinha levado; o velho, que queria que todo mundo se lavasse para não sujar o veiculo (se é que isso pode se chamar veiculo), pois ele usaria o mesmo para entregar peixe e camarão no dia seguinte. Depois de uma hora conseguimos seguir viajem.
A volta foi o mesmo inferno da ida. Mas quando eu pensava que pior do que estava não poderia ficar, ficou. Acabou o gás do botijão. Foi um desespero total. Não para a gurizada, que achou um meio de se divertir, correndo pro mato em volta da estrada de onde estávamos. Nos dividimos em dois grupos: um foi “resgatar” os diabinhos, que teimavam em subir em árvores e juntar tudo que encontravam no caminho, e outro iria caminhar buscando um armazém para comprar um botijão.
Fiquei no segundo grupo, para meu azar. Ainda estava bêbado e não queria me livrar dessa condição. Peguei seis cervejas que ainda havia e enfiei no meu short para me calibrar no caminho. Cai descendo o morro e me ralei todo. Por sorte, cai de bunda e as cervejas ficaram intactas. Depois de meia hora de caminhada, achamos o Buteco do Tonhão que só tinha liquinho, compramos dois, para garantir e voltamos pra Kombi.
Mais uma hora para botar a molecada de volta pra Kombi, e até hoje tenho certeza que o Waldecir Neto ficou por lá. Recebemos um postal semana passada pedindo pra buscar esse infeliz, que estava aterrorizando a população. E isso que ele só tem cinco anos.
No caminho, mais uma parada. Um dos guris tomou um todinho estragado. Perdemos meia hora esperando o produto deslizar de dentro da criança no meio do mato e a turma berrando, auxiliando em como ele deveria fazer força para sair o entrave. Nesse ínterim, meu tio achou um bar. Fui com ele. Voltei rindo a toa e com uma camisa do Atlético Carazinhense que troquei com um bêbado que estava na porta do estabelecimento. Seguimos viajem.
Finalmente, chegamos a casa, e após entregar todas as crianças, achei mais meia garrafa de bitter dando sopa. Não me fiz de rogado, Botei tudo pra dentro. Já estava mais bêbado que o meu tio. A família, depois desse dia lindo, resolveu tomar um café com pão e mortadela e fui junto. No meio da confraternização mortadelística estava de bexiga cheia e fui ao banheiro tirar uma água do joelho. Duas horas depois, alguém deu por minha falta. Bateram na porta do Banheiro. Nada. Bateram mais forte. Nada de novo. Meu sogro socou a porta perguntando se eu estava cagando, dizendo para não esquecer de queimar um pneu depois, prática rotineira na família. Como não respondi, arrombaram a porta.
Estava eu deitado no chão frio do banheiro roncando e balbuciando para apagarem a luz na hora que saírem do quarto. A família toda riu.
No natal seguinte, meu cunhado, que não valia o que comia, me presenteou com um Kit Soninho: Um travesseirinho azul bebe, um tapa olho rosa com bordas em rendas e uma mantinha. Tudo isso bordado com meu nome.
Até hoje tenho traumas de finais de semana na praia com a família. Todavia, esse foi apenas um dos maravilhosos finais-de-semana que passamos na praia com minha família.
CRÉDITOS:
- Juliano Marcos de Farias do CRONICAS DE BEBADO
- Mario Roberto Schauffert
Por favor, os créditos, quem escreveu essa crônica foi:
ResponderExcluir- Juliano Marcos de Farias
- Mario Roberto Schauffert
do:
www.cronicasdebebado.com
Caro Juliano.
ResponderExcluirComo dono majoritário do Blog, venho lhe pedir imensas desculpas por este transtorno.
Repare que o autor da postagem foi o Luuuis =), que já nem mais participa como um dos autores do blog.
Já estarei creditando o texto.
Novamente, me desculpe pelos transtornos!